No dia 19 de janeiro, a Ir. M. Natália obteve o grau de Mestrado em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. A tese apresentada foi na área de Liturgia com o tema: Via pulchritudinis: a arte floral ao serviço da Liturgia.
A Ir. M. Natália referiu na apresentação que o objeto do seu estudo surgiu na sequência da participação no Curso de arte floral para a liturgia (AFPL) promovido pela nossa Congregação em Itália.
O primeiro capítulo foi dedicado ao tema dos jardins. Procurou demonstrar a relevância que estes tiveram na Antiguidade a nível religioso, utilitário e decorativo, e que o livro dos Génesis reafirma no segundo relato da Criação, quando o próprio Deus planta um jardim onde coloca o homem por Ele criado. Uma leitura exegética dos substantivos גַּן (jardim) e עֵדֶן (Éden) permitiu perceber que estes termos suscitaram várias interpretações, conduzindo a uma alegorização dos mesmos, na arte, na literatura e na espiritualidade seja no período patrístico como na Idade Média. Possivelmente, esta ideia foi reforçada pelos inúmeros jardins de que fala o AT e pelas referências que o NT faz ao jardim, sobretudo onde Jesus foi sepultado.
O segundo capítulo foi sobre a presença das flores na liturgia cristã. Desde cedo as flores tornaram-se significativas para os cristãos sendo adotadas na liturgia. É certo que os Padres da Igreja não eram unânimes quanto ao uso de flores nas celebrações, devido à necessidade de se demarcarem dos cultos pagãos aos deuses, todavia estas foram tendo o seu lugar nos espaços celebrativos e adquirindo inúmeras formas de representação na arte. Neste segundo capítulo considerou ainda alguns conceitos-chave, devido à sua relevância no que concerne à AFPL. De facto, liturgia e beleza, liturgia e os cinco sentidos, símbolo e rito e espaço litúrgico são os principais elementos a considerar para que a arte floral ocupe um lugar específico nas celebrações litúrgicas. Constatou que na SC as flores não são mencionadas. O Magistério da Igreja tem sido demasiado parco quanto ao uso das flores no espaço litúrgico, limitando-se bastante à sua proibição na Quaresma e à moderação no tempo de Advento.
No terceiro capítulo destacou a fonte e o centro onde a AFPL se inspira: a Palavra de Deus. A arte floral ocupa o lugar de serva da Palavra e da Beleza de Deus e sendo uma arte não-verbal proclama Deus através da beleza da criação. A Lectio Divina torna-se uma ferramenta indispensável para o artista de AFPL, assim como uma formação adequada no âmbito bíblico, litúrgico, espiritual e técnico. Tomando como referência alguns dos tempos litúrgicos e solenidades apresentou várias composições florais.
O quarto capítulo foi dedicado aos principais elementos para a composição técnica de um arranjo floral. Neste sentido, procurou demonstrar o valor simbólico das cores e dos números na Sagrada Escritura e na liturgia. Destacou ainda a dimensão simbólica presente nas formas observadas na natureza e na arte cristã. Referiu-se ao perigo da alegorização, quando se tende a explicar o inexplicável através das cores, dos números ou das formas. Apresentou os estilos antigos, clássicos, modernos e o Ikebana expondo alguns arranjos florais.
Ao longo do trabalho as questões que surgiram foram as seguintes:
- As composições florais modernas terão lugar nas celebrações litúrgicas?
- A AFPL poderá vir a ser considerada um ministério litúrgico?
- A AFPL poderá contribuir para atenuar os graves erros ecológicos que assolam hoje a humanidade?
A AFPL não deve excluir as composições modernas. Todavia, exige-se uma cuidada formação dos artistas de arte floral. Certamente, a AFPL poderá vir a ser considerada um ministério litúrgico. O Papa Francisco tem vindo a abrir algumas “portas” (ministério do leitor, do catequista) como manifesta a mensagem para o quinquagésimo aniversário da Carta Apostólica Ministeria Quaedam. A Ir. Natália destacou a necessidade de se reeducar as comunidades para o bom uso dos bens: reduzir o consumismo de flores fora de época, importadas de outros continentes e evitar o uso de plásticos, sprays e abrilhantadores. Poderá ser este o contributo ecológico dos artistas de AFPL nas nossas comunidades.